Aqui há tempos, uma amiga sonhou comigo. Melhor dizendo, teve um pesadelo porque sonhou que eu tinha morrido. Mas eis que, depois do luto, dor, desespero e choro, eu reapareço. Ressuscito.
Quando ela me contou, eu achei muito curioso o timming daquele sonho.
Algo que eu não lhe disse: uma parte de mim de facto morreu por aquela altura. Aquela menina amistosa e sonhadora. Voltei a ser icegirl. Muralhas bem altas e reforçadas. Quem está dentro, fica. Quem está fora, temos pena! Poucos, mas bons. Qualidade versus quantidade.
Porque falo disto agora?
Porque acho piada a como as coisas acontecem na vida...
E porque, muito recentemente, durante um jantar e enquanto se conversava sobre bebes, dei por mim a pensar no quanto estavam diferentes os nossos jantares... E em como este refinamento se pode aplicar a outras áreas.
Passo a explicar.
Não há muito tempo, a escolha do restaurante era feita com base no preço: o mais barato possível e de preferência que tivesse João Pires.
Agora, o restaurante é escolhido pela especialidade. Escolhe-se o restaurante X por causa do bacalhau com natas, o restaurante Y por causa do mascarpone, o restaurante W pela etnia. O preço tornou-se praticamente irrelevante. Dá-se preferência à qualidade em detrimento da quantidade: poucos jantares, mas bons.
Não há muito tempo, o peso do vinho no valor total da conta rondava os 30/40%.
Agora também.
A única diferença é que agora só vem uma garrafa de um bom vinho para a mesa, enquanto que, não há muito tempo, vinha uma de João Pires para cada um.
Mais uma vez, qualidade vs quantidade.
(Não me recordo do nome do vinho. Eu sei! Nem parece meu... Mas eu vou tratar de saber e depois digo. Maravilhoso néctar dos deuses...)
Não há muito tempo, procuravam-se os sítios mais badalados para se frequentar. Quanto mais cheios, melhor.
Agora, quando pago 15€ de consumo para estar num sítio, no mínimo, exijo meio metro quadrado onde possa estar descansada, a conversar com os amigos.
Mas pior do que não ter o meu meio metro quadrado, nem conseguir chegar ao bar, era mesmo o ambiente. Decadente!
Eu não sei, e prefiro até nem saber, o que passa na cabeça destas mulheres! Dos rapazes já não se espera outra coisa: boys will be boys. Agora, das mulheres?! Parecia um expositor, uma montra. Era só escolher!... Deplorável!
Pena é que, por estas, pagam as outras. Enfim...
Conclusão, prefiro sítios com menos gente e, consequentemente, menos animados, mas com um mínimo de qualidade. Onde possa conversar, chegar ao bar não seja uma missão impossível e onde as pessoas saibam estar.
Quando me apetecer sair para dançar, vou a um antro. Pode ser feio e cheio de fumo, mas é frequentado por pessoas que saem para ouvir música e se divertir. E não para andar à pesca ou ser pescado. Sem isco!
Talvez esta seja a parte boa em amadurecer. As coisas perdem a qualidade de novidade, não nos deixamos deslumbrar com tanta facilidade, perdemos a paciência para trivialidades, passamos a ser mais exigentes, com tudo.
Deixamos de querer muito e passamos a querer bom.
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