filha de peixe sabe nadar, yo

Vigilância
IMDB: 8,00 (185 votos)

Segundo filme de Jennifer (Chambers) Lynch, o primeiro foi arrasado pela crítica. Eu não vi o primeiro mas vi este e gostei.

Como hoje é segunda-feira e não me apetece pensar muito, deixo-vos a opinião escrita por outra pesssoa, e que eu subscrevo.

"Ninguém diria que Jennifer Lynch, realizadora do intragável "Boxing Helena", conseguiria alguma vez transformar com subtileza e uma graça invulgares um enredo à primeira leitura absurdo. Mas ninguém me faz demover da ideia que "Vigilância", um "slasher movie" com e para adultos, tem dedo do pai David. Para além da produção executiva.

David Lynch é um génio. É inegável. Já da sua filha Jennifer, não reza a história. Em 1993, então com 23 anos, a primogénita do realizador de "Veludo Azul" e "Mulholland Dr." não resistiu à surreal intriga de um cirurgião que amputa os membros superiores e inferiores à sua amada para a manter em cativeiro. Dessa obra, ficou apenas na memória o processo que a produtora moveu contra Kim Basinger, que concordou em ser protagonista mas, graças a intervenção do divino espírito santo, decidiu sair do elenco a poucos dias do início da rodagem. A actriz acordou o pagamento de milhões de indemnização, mas em contrapartida salvou a sua carreira.

Depois do fiasco de "Boxing Helena", Jennifer realizou o episódio de uma série televisiva e, 13 anos depois, regressa com "Vigilância". A história é simples: uma pequena localidade é atormentada por dois serial killers. A polícia, uma espécie de GNR local, infantil, matarruana e louca com a atenção que o caso está a gerar, é visitada por agentes do FBI que se deslocam à cidade para interrogar as duas testemunhas de um brutal acidente provocado pelo assassino em série. São elas uma jovem toxicodependente, uma miúda sobrevivente de uma família em férias, e um dos polícias da equipa que acorreu ao local. Cada um conta a sua versão da história, com mais mentiras e omissões que verdades. Felizmente, Lynch vai mostrando os acontecimentos tal como ocorreram.

A realizadora não é meiga com os espectadores logo nos créditos. Um assassino com cara desfigurada invade uma moradia e mata o proprietário e a sua mulher. A partir daí, montagem, construção dos personagens e até a representação dos actores faz lembrar o trabalho do seu pai. Os actores prinicipais e os bonecos de Lynch actuam com displicência, ironia, desfaçatez, com uma calma aparente nos momentos de maior stresse e dramatismo.

É certo que em "Vigilância" não há o surrealismo nem o quebra-cabeças de David. Mas há aquilo que é sobejo na sua obra: as personagens que não são aquilo que parecem, que entram numa metaformose e caso mais paradigmático desse cunho será o brilhante "Mulholland Dr.". David Lynch gosta da aparência, de nos fazer acreditar naquilo que vemos brindando-nos no final com o que vai nas entranhas das personagens. E, muito provavelmente, este é um estilo também muito querido a Jennifer.

A cineasta sai-se bem com os planos típicos de road-movie, com a construção dos momentos de tensão e na belíssima caracterização dos elementos da esquadra policial. É hábil nas sequência de morte e no acidente que serve de fio condutor. Consegue gerir o twist sem pressas, preferindo dedicar-se aos diálogos, excelentes, que oscilam entre o mordaz e o humorístico. Só a partir do momento em que a história é revelada é que a condução descarrila para o facilitismo típico do cinema norte-americano, contudo sem a gravidade capaz de comprometer tudo o que está para trás. Mas a maior prova da sua capacidade está talvez no facto de conseguir extrair de actores medianos como Julia Ormond e Bill Pulman (este, na minha opinião, roça quase sempre o medíocre) algum talento para interpretar dois papéis nada fáceis."


por André Barbosa em RedCarpet, AQUI.

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