alguém... quem? *

* 21 de Junho de 2008


Eu bem os vejo aproximarem-se de mim com cuidado, como quem não quer nada.
Eu vou deixando-os entrar porque a sua companhia me faz bem. Penso sempre que também apreciam a minha companhia.
Mas, passado um tempo, surge sempre a mesma conversa. Quase parecem tiradas a papel químico.
E a minha resposta, que é sempre a mesma. Sempre o mesmo discurso...
Não quero magoar ninguém mas é inevitável
E assim, vou coleccionando amigos.

Deixam-me a pensar como é que eu posso ser o mesmo para pessoas tão diferentes? Quem será que eles vêem? A mim, não é...
Eu nunca seria capaz de ser quem eles idealizaram que fosse, quem eles querem que eu seja.
Eu só consigo ser eu...

Afirmam com convicção que me conhecem e que sabem o que eu quero e preciso.
Se me conhecessem, saberiam que eu não quero nada do que me propõem ou oferecem e que não acredito em nada do que me dizem.

Eu não quero uma casa a dois, os carros, as reuniões de familias, as férias no Algarve ou no estrangeiro, os filhos, os jantares fora, os aniversários, os presentes e as datas importantes.
Saberiam que eu apesar de acreditar que duas pessoas podem ser felizes juntas, ninguém é a felicidade de ninguém.
Saberiam que eu sou só uma mulher como todas as outras, cheia de defeitos e caprichosa, e que não posso ser o sonho de todos.

Saberiam que o que eu espero é alguém com quem rir muito, alguém que goste de mim como sou, que me ame mas que não se sinta tentado a fazer-me todas as minhas vontades e desejos.
Alguém com quem possa aprender e ensinar, que admire e me admire, que respeite e me respeite.
Alguém que me escute, que se esforce por me conhecer, que eu queira conhecer, que esteja atento às minhas alterações de personalidade e saiba como proceder com cada uma delas, que me dê espaço quando preciso de respirar e me abrace quando eu preciso. E eu preciso tantas vezes...
Alguém que confie em mim, que saiba de seria incapaz de lhe fazer mal. Alguém que não me receie.
Alguém que saiba que quando chamo é porque tenho saudades e preciso dele ao pé de mim. Alguém que precise de mim às vezes. Mas só às vezes.
Alguém que descubra o meu corpo, que o decore, o conheça de cor, que adormeça nos meus braços enquanto faz o inventário dos meus sinais.
Alguém que me surpreenda, que o saiba fazer e a quem eu queira surpreender.
Alguém que brinque comigo, saiba até onde pode ir a brincadeira, me provoque e saiba fazê-lo.
Alguém que saiba que quando me entregar terá tudo de mim. Alguém que tenha a mesma capacidade de entrega.
Alguém que não sinta a necessidade de me contar tudo mas que seja incapaz de me mentir , enganar ou magoar.
Alguém a quem me apeteça agradar, ceder, cuidar e mimar.

Um mundo só nosso e de mais ninguém.
Alguém que caminhe comigo de mão dada, lado a lado, pela estrada da vida.

Sonhei que estive tão perto de concretizar este desejo...
Hoje sinto-me incapaz de acreditar que vá acontecer.
Já não sei no que acreditar e sinto-me totalmente perdida.
Já nem em mim acredito.

Terei desperdiçado estes anos todos à espera de algo que nunca vai acontecer?
Sinto-me cansada de acreditar, cansada de correr atrás e cansada de esperar.
Estará na altura de ceder e deixar que alguém tente fazer-me feliz como me promete, mesmo que eu não acredite que tenha essa capacidade ou sensibilidade?

Não consigo ceder.
Prefiro continuar sozinha. Mas nunca só.

Só é pena esta sensação de vazio que não me larga...
Por vezes sinto-me brincar no cume de um abismo, desafiando a lei da gravidade.
Estou farta de aqui estar mas também não sei para onde ir.
Sinto-me vazia sem a minha esperança. E sinto esse vazio aumentar de dia para dia... Até quando? Qual será o meu limite?

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