Reflexos

Coloco-me em frente ao espelho. Vejo um reflexo. Uma cópia de mim.

Dou um passo em frente, dá um passo em frente. Sorrio, também sorri. Retrocedo, retrocede também. Fisco olho, pisca também.
Por fim, estendo a mão. Também estende. Quase se tocam, mas algo os separa.
Baixamos os braços.
Digo adeus, responde com um adeus.

Quando volto, também regressa.
Mas não deixa de ser irónico. Agora invertemos os papéis. Sou eu o reflexo. O que ele faz, eu faço também.

Ele diz coisas que eu já disse e faz o que eu já fiz. Eu sinto o que ele sentiu e devolvo-lhe as palavras que em tempos me dirigiu: iceberg, vacilar, cruel, deixar, loveless.

Ele diz-me adeus e eu digo também.
Falará sério? Ainda aguardo a ver se volta mas não, foi de vez. E eu?

Eu? Que pode um reflexo fazer?
Nada… Apenas, deixa de existir.

1 comentário:

Carpe Diem disse...

Simplesmente lindo!! Mas um reflexo pode sempre encontrar a sua propria essencia e rebelar-se contra o criador :)