Fui assistir a um concerto de Metal ao Ars Nova

Sim, leram bem. E sim, é mesmo verdade!
Eu fui ao Ars Nova! Assistir a um concerto de Metal!
Perguntam vocês: como é possível, Lua Cheia??? Não sei! - respondo eu. É daquelas coisas da vida sem explicação. Como levar o Mac para a praia para assistir à Formula 1.
Sei que, num momento estava "muito bem" a trabalhar, recebi um telefonema e, quando dei por mim, estava à porta do Ars Nova. Como aconteceu, como fui lá ter... Não sei, acho melhor não saber, não tentar desbloquear a minha memória selectiva.

Aposto que agora estão curiosos para saber o porquê de eu estar para aqui a escrever sobre isto... Eu explico!

O concerto a que assisti, estava inserido num concurso de bandas e, eu hei-de dizer que assisti à primeira edição daquele concurso!...
Tinha eu cerca de vinte aninhos e namorava com um gajo que era vocalista de uma banda de garagem, inscrita a concurso. Escusado será dizer que a banda não passou a primeira eliminatória. Digamos que eu não namorava com ele propriamente pelos seus dotes de músico.

Curiosamente ("coincidência"!), cruzei-me com ele no shopping no domingo passado. Eu cumpria o meu ritual de cinema e ele passeava com a respectiva e o rebento, que presumo ser de ambos. Ele não me reconheceu, felizmente! Não suporto o género de conversa "E então, que é feito de ti?". Ainda por cima com aquela personagem.
Confesso que levei um baque!
Por vezes imaginava o que seria feito dele, uma vez que nunca mais o vi desde que acabamos.
Com o género de vida que ele levava, sempre imaginei que estivesse preso, a arrumar carros, empregado de mesa em Londres, dealer, ganster, qualquer coisa de jeito. Mas não! Tornou-se pai de família! Que desgosto! Traidor!!!
Mas eu devia ter desconfiado, pelas vezes que ele insistia para conhecer os meus pais, que ele iria ceder, mais tarde ou mais cedo. Ainda bem que eu tenho a folha limpa cá em casa: nunca cá entrou um namorado (na presença dos meus pais, claro!). Nem aos trinta, quanto mais aos vinte!
Isso também o deixava inseguro. E, por mais que eu lhe tentasse explicar que ele namorava comigo e não com os meus pais, ele não percebia.

(Pausa para jantar...)

Foi com ele que aprendi a arte do teasing. Não havia, nem houve, pessoa que me pusesse cega de raiva com tamanha facilidade e rapidez como ele. Foi muito produtivo: ganhei calo e aprendi a fazê-lo às outras pessoas. Inclusive a ele! Uma vez, deixei-o de tal modo verde, que ele chegou a levantar-me a mão para me acertar o passo. Apesar de já estar a ver a minha vida a andar para trás, era ver-me a gritar do meu metro e sessenta e sete para o metro e noventa e três dele, "Vais bater-me???". Escusado será dizer que as coisas acabaram azedas e naquele momento!... E eu aprendi o meu limite.

(Pausa para colocar o CD de sábado à noite. O que é que eu visto???...)

Na altura, todas as minhas amigas me davam cabo da cabeça por andar com aquele traste. Todas diziam que eu "merecia melhor". Coisa que me levava aos arames. O que é isso de "merecer melhor"?! Não percebi e continuo a não perceber.
Quem é melhor que quem? E porquê? Como se quantifica essa superioridade/inferioridade? Porque consideravam elas que eu era melhor que ele? E quem consideravam elas ser indicado para mim?
Já imagino: um intelectual, Ratatui de biblioteca, inteligente, culto, chato como tudo, bonzinho, que me tratasse nas palminhas. Socorro!!!

Voltando à (i)lógica do "mereces melhor".
Partido do princípio, supondo, que eu seria melhor que ele, ou seja, ele estava aquém do que eu mereceria. Se, mesmo assim, era a ele que eu queria, porque não haveria de ficar com ele?
É como ter possibilidades financeiras de comprar e manter um Jaguar e preferir um Toyota. Qual é a crise? Eu é que sabia o que queria e o que era melhor para mim. Sempre foi assim e há-de ser. E assim foi.

Passado este tempo todo e, por muito que me custe, tenho de dar a mão à palmatória: elas tinham razão! Ele não era mesmo gajo para mim.
Já imaginaram a minha sorte?... Passear um carrinho de bebé com o maridão num shopping, ao domingo à noite?... Sai-te sorte!...
De facto, mereço melhor!

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